Mandala RODA DA FORTUNA

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Roda da Fortuna

Ah, poeta das coisas alheias, das migalhas maltrapilhas e das formigas destruídas...
Ah, gotas de orvalho equilibristas, que os ventos ébrios e gigantes sopram sem pudor...
Ah, marias santas e loucas, dos amores pungentes e vãos, das guerras férteis e infrutíferas...
Ah, folhas de outono desabridas, que os amantes não adornam e a literatura não as falam...

Vós todos possuem a fortuna!
Vós compelidos de olhares, mas reluzentes de delicadezas, possuem todo o tesouro.
Estão sagrados e sãos quando todos os julgam pérfidos – vós, senhores, estão girando sábios na Roda da Fortuna.

Pois sois vós, amados do tempo, quem morrem todas as noites despercebidos e renascem todos os dias nos despertar e despetalar das flores.
E que fazem da suavidade das pétalas o espasmo dos seus dias.
E que retiram das sutilezas dos detalhes toda a fortuna.

Vejam, reis hedonistas, governantes tacanhos, egos petrificados pela a ilusão do poder –
Vejam todos, o bailar do sol que possui toda a luz; as asas das borboletas que possuem todas as cores; o opaco da terra que possui todas as sementes; os pássaros que possuem todos os cantos; o misterioso sopro que movimenta todas as coisas...
Vejam a bravura contínua do mar que se estraçalha formando ondas infindáveis; a floresta desesperada de verde que o liquefaz em vida; o rio branco, negro, vermelho, amarelo que abrange as profundezas da terra e continua a desbravar a superfície; a eterna dança silenciosa das nuvens que modifica as estações...
Vejam o mistério da fortuna. E a roda viva em que ela vive.

Somos todos ricos!
Nobres na condição de existir.
Férteis na posição de possuir: vida na vastidão da existência.
A riqueza sóbria e real existe na energia de tudo que há.
E talvez seja isso que a mandala no seu mistério de luz, vem nos revelar.

Salve cantos de sabiá, toda a beleza que há; palavra, silêncio, clemência e dinheiro; salve a paz de um jardineiro; salve o brotar, preservar e colher; salve o nascer e o morrer; salve o ciclo eterno e próspero.
Salve tudo que no Universo habita – Agora, a Roda da Fortuna possibilita a saudação de tudo o que realmente significa.
Salve a Mandala e a sua contemplação mística!







Mandala Artística: Simone Bichara


Texto Poético: Daniella Paula Oliveira


Do Projeto "A Mandala e a Palavra"

Mandala 'HARMONIA'

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Harmonia



A ressonância de um coração batendo em prol do outro. O amor sendo entendido nas suas facetas mais sublimes e ordinárias. A sensação transcendente de amar aquele ser antes de tê-lo visto pela primeira vez. A razão de encontrar o Deus em todas as coisas. O silêncio do debaixo d’água. A poesia discreta da construção de uma teia de aranha e a canção suave de um único rouxinol adorando a chuva. O bailar sereno das nuvens que entrelaçam sombra e luz; o imperceptível, mas real espaço entre sombra e luz. A sutil luminosidade dos vaga-lumes em contraste com as noites de completa escuridão. O Ser humano gerando outro ser humano no seu ventre, nas suas vísceras e no seu coração. O parir desenfreado, doloroso e admirável da criação.


A infância de cirandas e pureza, árdua e sem destreza dos grandes pequeninos. O adulto firme e opaco, como árvores do sertão, por vezes fazendo travessuras, pinturas e doçuras, por outras, mistério e contemplação. O ancião costurando as suas veias furadas e o seu coração retalhado, cozendo um bordado da sua existência e preparando-se para voltar à gestação. As vozes das cantoras graves e grávidas destoando o ar. Os corpos das intérpretes intrépidas nos palcos frios de público quente. A lágrima adocicada do palhaço contente. A melodia primordial que dá vida aos outros cantos e que só o compositor tem ouvidos para ouvi-la. O barro bruto na matéria e a obra prima etérea do escultor desabrido. A passagem do atemporal e o invisível que há entre as coisas. A pirâmide da unidade e a completa doação da amizade. Os sonhos puros dos deuses e as suas terríveis premonições, mas que a beleza dos seus sentimentos ainda é capaz de sonhar; e que por vezes, são colocados nos corações dos homens. As harpas e tambores dos anjos na mesma canção de ninar e embalar. O incandescente nascer dos raios e o grito trêmulo dos trovões na mesma tempestade. O amarelo alaranjado do sol que nossos olhos não podem ver, mas que a alma pode sentir. E os tons de verdes da floresta mãe, que jorra oxigênio para todos prosseguir. O indígena e o oriental nos ensinando o milagre primordial. Tudo aqui, em perfeita sincronia. Em sublime e pungente harmonia.



Projeto ' MANDALA E A PALAVRA'.


Mandala de Simone Bichara – Texto de Daniella Paula Oliveira

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