Vídeo Texto e Mandala "Caminhos"

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Texto poético de Daniella Paula Oliveira & Mandala artística de Simone Bichara.
Texto e Mandala: Caminhos.
Do Projeto: A Mandala e a Palavra.

Créditos:
Música: Cello Suite No. 1 in G Major - J. S. Bach
Mandala: Caminhos - de Simone Bichara
Texto: Caminhos - de Daniella Paula Oliveira
Imagens: Internet.
Produção e edição: Daniella Paula Oliveira
Projeto geral: Daniella e Simone.

Mandala "RENASCIMENTO"

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Renascimento


Renascer é uma questão de Vontade.
É pegar uma minúscula chispa que vive dentro de nós
Assoprá-la com os ventos que a vida nos traz,
Com atenção e constância,
Transformá-la no fogo que busca a verticalização.
No fogo que inunda o coração, que queima o fragmentado e limitado em nós
Dando-nos a chave da superação.
Ofertando-nos as armas vindas da mais pura inspiração
- para vencer nosso dragão do medo e o nosso venenoso julgamento.

É lutar contra o lamento desmedido
A queixa sem fundamento
O olhar sem brilho
O sorriso empalidecido
O gesto incompreendido
O amor que desfalece desnutrido.

Renascemos quando aportamos em nós o melhor da vida.
Quando limpamos as nossas emoções confusas e híbridas
Para restituir a nossa razão sã. A nossa postura de heróis. Os nossos sonhos em caracóis. A liberdade em nossa voz. O abandono do papel de vítima e algoz.
Assim, quando surgirem os nós, com delicadeza e sabedoria, saberemos desfazê-los.
Respiraremos o sopro divino e colocaremos em nós a pulsação do Eterno.

Renascer é levantar-se com o Sol.
E se pôr com Ele.
É ter a coragem de uma semente, que sai da escuridão e mostra para o que veio, transformando-se no seu melhor.
É não cair nas ilusões ao redor
E compreender sempre, que o Real é indestrutível.
É ver o que simplesmente é visível:
Que a vida nasce há todo momento.
Que a Natureza vive o contentamento.
E que para voar, nem sempre os pássaros esperam o bom vento.

Renascemos todas às vezes que damos à luz a uma fagulha de amor.
Todas às vezes que nos livramos do torpe e do horror.
Quando, naquelas manhãs singelas, relembramos uma antiga aquarela
Uma serena canção; uma breve poesia; um sabor de um doce daquela senhora Maria...
Todas às vezes que na humildade de nos reconhecermos humanos, queremos apenas ser humanos na melhor humanidade.

E nessa simplicidade queremos ser amantes do Tempo.
Esquecer os contratempos que tantas vezes criamos.
Encontrar a harmonia perfeita para pulsar o nosso coração.
Viver a Lei da Natureza e sua nobre lição.
Fazer perguntas profundas e esperar com atenção, que a vida nos responda amiga, exercitando a nossa gratidão.

Renascer é expandir a dimensão da nossa Alma.
É a cada segundo viver a Eternidade.
É apaixonar-se pelo o Belo em qualquer de suas expressões.
É buscar a calma ativa da disciplina.
E a chama, que não é efêmera, da Evolução.

E assim, ancorar o nosso Espírito
Rumo aos oceanos da Existência
Firmando-o na Sabedoria infinita do Mistério que nos move;
E na Celeste Luz que nos orienta.

O Renascimento é uma oportunidade que nos damos,
Para passarmos a viver junto ao Divino, que embora habitamos,
Cerramos-nos para Ele.
Muitas vezes é preciso renascer, para compreender.
Tantas vezes é preciso apenas respirar para renascer.
Diversas vezes é preciso somente a Vontade de deixar viver o nosso Verdadeiro e Renascido Ser.


Mandala de Simone Bichara – Texto de Daniella Paula Oliveira

Crônica "Adélia" por Daniella Paula Oliveira

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A crônica abaixo, chamada "Adélia", é da Daniella. Escritora, professora e colaboradora do Blog.
Tem uma sensibilidade além olhos. Apreciem.

"Adélia"
Por Daniella Paula Oliveira

Lá fora uma tênue chuva cai molhando não só os telhados, mas as minhocas. E aqui, quem está comigo é Adélia Prado, me contando do seu avassalador amor por Castro Alves.

Adélia tem um jeito de falar das coisas que só as grandes almas têm: um contentamento com as palavras, um eterno agradecimento a elas em cada vírgula acentuada.

Ouço Bach e a sua música divinizada. Tão amada em meu peito ardente.

Minha mãe vê a TV, com os seus ralos cabelos espalhados sobre um travesseiro com o cheiro do seu suor de nuca. E a minha irmã dá risada dos vizinhos com uma vizinha na porta de casa.

O que parece só uma tarde bucólica e nostálgica, talvez seja mesmo, tem o peso e a leveza da eternidade dentro de mim; porque eu me prontifiquei a pensar sem questionar... Só contemplando sem mente o que todas essas sementes de cotidiano vêm me dizer.

Hoje, se há um Deus, ele está aqui ao meu lado; trançando os dedos em meus cabelos e sentindo o perfume da pele – assim, como um Ser apaixonado. Como há possibilidade de não haver apenas um Deus, mas vários desprovidos Dele mesmo, pode ser um desses deuses de nomes bonitos que está aqui, apaixonado pela sua tão frágil e inconstante criação.

É que sinto ares românticos, e como não há uma paixão latente destinada a mim, penso que só pode ser um deus carmim acariciando a minha alma a amar.

Enfim, voltemos à Adélia, ela acaba de me dizer que o nariz dela se apóia em um ar grosso; achei isso tão bonito, pois o meu não tem apoio nenhum. Fogem dele o fino e o espesso, e resta esse, que todo mundo tem.

De verdade? Nunca quis ser poeta, músico, artista... Essas coisas tão sensíveis, que mal sabemos se esses seres são palpáveis ou não. Com o tempo fui me contentando em ser eu mesma: essa carne viva, esse sangue de abacaxi (ora azedo ora doce, embora sempre cítrico), essas pernas finas e cumpridas e esse nariz complacente. Fui compreendendo que eu sou mesmo inconstante; que os meus prazeres são banais e efêmeros, e que os meus sentidos são mais entorpecidos que de qualquer um que já conheci. Sou tão inconstante que um dia já gostei de amoras...

A constância é um negócio pertinente. Os mais sábios dizem que é bom a gente ter na gente. Quem sabe um dia eu alcanço essa sabedoria, no momento, hoje eu como bicho morto, amanhã eu comerei apenas risoto (e sem frango). Sei lá, tenho essas ideias de remissão.

Agora Adélia me fala de uma tarde, onde sol queima as tanajuras... Deus meu! Pensemos na grandeza do Sol – chega a queimar até as tão pequenas tanajuras. Olha, há sim um Deus, e penso eu, que ele mora em todos os raios desse sol, por isso é também vários, pois se espalha a todos os cantos, fazendo com que cada um veja-o através de uma face diferente.

Por isso penso que não adianta brigar por causa dele, pois amanhã ele estará aqui de novo, mostrando uma cara diferente. Não adianta, cada um o verá conforme a sua semente – aliás, semente esta, que ele mesmo plantou.

Se eu contar o que Adélia disse agora... “Tristeza Maravilhosa”... Isso mesmo: Tristeza Maravilhosa. Existe sim uma tristeza maravilhosa, vivo experimentando dela; ela tem cheiro de ambrosia e gosto de ameba. A gente quer deixar que ela passe e deixe seu perfume, que é pra gente saber reconhecer e prová-lo quando necessário, mas não queremos comer dessa tristeza. Adélia sabe das coisas. Acho que se ela pudesse, chorava agora, bem aqui, encostada nos meus seios... Com a sua tão bonita tristeza maravilhosa. Ela não chora porque é orgulhosa! Porque se fosse eu, não que eu também não o seja, porém possuo carência nas pálpebras, deitava correndo sobre uns calorosos peitos e deixava todas as escaldantes lágrimas serem derramadas, como chuvas torrenciais de verão.

Está meio frio aqui hoje... Um vento desses gelados que deixam os nossos dedões dos pés entristecidos. Ainda bem que Bach ainda canta para o meu coração, o Deus ainda massageia os meus cabelos e Adélia acaba de me dizer que quer letras para pedir emprego, escrever seu nome completo e agradecer favores. Eu complementaria, dizendo que eu quero letras para ensinar às pessoas as letras, gosto de ensiná-las. É também um prazer pueril, mas no final das contas, só as poeiras é que resistem ao mar.

Minha mãe acaba de levantar e me oferece água. Achei simbólico, já ia falar da minha sede. Que não é tanta como a dos poetas, é uma sede que quando seca a saliva dá; o problema é que eu não salivo quase nunca.

Tomei a água, usando as letras para agradecer à minha mãe; e percebi que a minha sede é de mim mesma.

Agora calo Adélia e as minhas palavras, pois preciso beber de mim, e isso é íntimo demais para compartilhar.

O deus se vai, pois tenho vergonha dele, Bach silencia e só a lua lá fora me assiste, pois ela é fêmea, solitária e tem sede.

Fito Adélia; penso que ela sente ciúmes... Não sinta minha Senhora, daqui a pouco te agarro nos braços e suplico a sua poesia, para compreender um pouco mais da solidão, pois a parte da paixão, já entendi, pois ainda desfaço em mim os seus grilhões.

Até breve, Adélia, até breve.

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