MANDALOTERAPIA - OFICINA DE MANDALAS

0 comentários

O Espaço Gaya Aldeia do Serapresenta: OFICINA DE MANDALAS- A autodescoberta através da Arte!

                             

LUSTRAL

3 comentários
                         Lustral   

 Daniella Paula Oliveira - escritora e professora cuiabana




Andei arrumando as gavetas... Jogando aqueles mínimos e míseros papéis fora. Àquelas lembranças desnecessárias, que juntas, mesmo pequeninas, tornam-se pesadas. Organizei os livros na estante e me desfiz daqueles cuja presença servia unicamente para apresentar um pseudo-intelectualismo torpe. Àqueles, onde meu olhar descompromissado com a vida percorria, mesmo sem abri-los, só para a efêmera sensação de possuir “conhecimento”. Junto com os livros, desfiz-me da necessidade de possuir qualquer coisa, até mesmo, o que até então, julgava conhecimento. Arrumei os armários e quebrei todos os copos do cotidiano. Retirei a poeira das taças de cristal e as coloquei para o uso diário; pois há de haver celebração e beleza nos instantes, mesmo os chamados triviais. Terminei a toalha de renda que comecei há uma década e meio atrás. Substitui a de plástico da mesa de jantar, pela a toalha rendada, que os meus dúbios dedos teceram sem muita destreza, porém, com imensa vontade de vê-la pronta. Também substitui a frivolidade do excesso de rapidez, pela a bela intenção do trabalho terminado. Comprei uma tela que retrata uma canoa no mar. Coloquei-a na parede da sala. Todas às vezes que a olharei, lembrarei que sempre há bons ventos para àqueles que não têm medo de navegar. E também um jarro para colocar flores, e prometi a mim mesma, que as ofertarei para minha dama interna sempre que possível. Retirei do meu guarda-roupa as cores extravagantes e deixei as alegres. As que dizia sensuais, para não me igualar aos vulgares, mas que na verdade eram também vulgares, e deixei as que acentuam o que o meu corpo possa ter de belo e delicado. Retirei as do verão passado e as do inverno retrasado, pois as estações passam, e mesmo cíclicas e ritmadas, apresentam sempre algo novo e mais digno. Por fim, limpei o chão como quem limpa o coração; como quem tece um branco e puro vestido de noiva; como quem planta rosa e decora um jardim... Enquanto via a vassoura expurgar a sujeira do chão, deixava que as lágrimas dançassem na minha face, e que a minha alma fosse seguindo o mesmo movimento da varredura, e retirando de si as poeiras que a fazem chorar. Às vezes é preciso organizar, desfazer, substituir, limpar... Dar espaço para que o novo aconteça, para que o lodo saia e o que verdadeiramente somos renasça. Cada um é o único responsável para transformar o seu grande caos em pequeno cosmos. Não duvidemos que a ordem seja o céu plasmado; não duvidemos que ao soprar para o vento o que podemos ter e fazer de melhor e mais límpido, para nós será devolvido o melhor e o mais nobre. Desapegar é um ato de coragem. Ordenar é um ato de beleza. Colaboremos, pois, com a Natureza da Vida, sejamos corajosos e belos com o nosso lar interno e externo, só assim, conheceremos um naco da Perfeição, um singelo, porém satisfatório, pedaço do que chamamos de Céu.


 Daniella Paula Oliveira – 01 de julho de 2012.

Pages