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Contemplação

Venho de uma longa contemplação divina...
De uma longa caminhada pela areia
Das cores de uma calda de sereia
De um alazão e o vento em sua crina.

E nada mais sou que a contemplação da vida.
A ida sem retrocesso, mas com retorno.
O verso de um poema ensopado de sonhos
E o ansioso olhar de um neófito contemplando o mistério do novo.

Tateio os toques e descubro o veludo que encobre as carícias
Respiro as flores e desvendo o segredo da essência da pessoa amada
Vejo a lua e percebo as estações da alma em que todos perduram
E assim, murmuram em mim a contemplação do mágico e trágico sentido das coisas.

As lembranças também são esquecidas
- mudam de tempo em tempo, assim, como pétalas de margaridas.
E restam-me as folhas de outono e a chuva de verão
O recolher do inverno e a floração na primavera


A meditação sobre as quimeras
Que a minha ilusão criou
E o respeito pela as cores matizadas de sonhos
Que a minha imaginação imaginou.

E essa tão primordial contemplação
Que é inspirada nos deuses longínquos
E na tão eterna pulsação do coração
Visita a minha alma e a minha visão

Fazendo-me regressar às Sagradas Eras
No tempo em que os Homens vivem a sabedoria de Era.
E a consolidação das boas profecias
Dependiam, unicamente, das virtudes conquistadas e da harmonia avivada.

E como uma reminiscência, um pássaro indo além das nuvens
Contemplo o passado, presente e futuro
Na mesma extensão de Destino
Com o tino do Tempo me ensinando a viver.

E mais que crer na vastidão da Eternidade
Meu ser relembra que é parte da imensidão da Identidade Divina.
Sua sina é transcender o que for reles e descobrir a Realeza;
É ver com clareza toda a beleza a nós designada.

Meu ser contempla o tudo e o nada
Nessa grande nave Terra
Nesse coro cósmico
Nesse imenso deus Universo!

Contempla o sono e o despertar
A vida pulsante em seu eterno germinar
A gênese e a certeza que o primeiro verbo foi amar.

Contempla a contemplação de uma singela poesia
-criada nas entranhas do coração!



Mandala de Simone Bichara – Texto de Daniella Paula Oliveira

Outro Paradigma: escutar a Natureza

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Que sirva de reflexão para todos nós, o artigo abaixo,do Leonardo Boff. Para mim, a desconexão com a natureza, vem fazendo o ser humano refém da mesma. O Planeta nos cobra a falta de amor e respeito pelo meio ambiente. A ganância humano destrói florestas, mares, animais e todos os demais biomas. Com a mesma fúria, a Mãe Terra vem dando respostas aos nossos ataques contra as leis naturais. O equilíbrio virá em ouvirmos o que as florestas, os mares, os rios, as plantas e animais nos dizem. Em toda natureza há um ritmo, um movimento que precisamos decifrar, precisamos escutar e respeitar. Eu que nasci na floresta, que a tenho como minha Grande Mãe, dói saber que ano após ano, o ser humano invade, destrói nossas matas, expulsa nossos índios de suas terras, extermina nossos animais, espalha dor, miséria e destruição. Tudo isso em nome do dinheiro, do progresso... Mas o nosso filósofo nos fala com leveza e sabedoria sobre o tema. Vamos ouvi-lo! Por Simone Bichara



Outro Paradigma- Escutar a natureza.

Por Leonardo Boff (filósofo e teólogo)


Agora que se aproximam grandes chuvas, inundações, temporais, furacões e deslizamentos de encostas temos que reaprender a escutar a natureza.
Toda nossa cultura ocidental, de vertente grega, está assentada sobre o ver. Não é sem razão que a categoria central – idéia – (eidos em grego) significa visão. A tele-visão é sua expressão maior. Temos desenvolvido até os últimos limites a nossa visão. Penetramos com os telescópios de grande potência até a profundidade do universo para ver as galáxias mais distantes. Descemos às derradeiras partículas elementares e ao mistério íntimo da vida. O olhar é tudo para nós.
Mas devemos tomar consciência de que esse é o modo de ser do homem ocidental e não de todos.
Outras culturas, como as próximas a nós, as andinas (dos quéchuas e aimaras e outras) se estruturam ao redor do escutar. Logicamente eles também veem. Mas sua singularidade é escutar as mensagens daquilo que veem.
O camponês do antiplano da Bolívia me diz: “eu escuto a natureza, eu sei o que a montanha me diz”. Falando com um xamã, ele me testemunha: “eu escuto a Pachamama e sei o que ela está me comunicando”.
Tudo fala: as estrelas, o sol, a lua, as montanhas soberbas, os lagos serenos, os vales profundos, as nuvens fugidias, as florestas, os pássaros e os animais. As pessoas aprendem a escutar atentamente estas vozes.
Livros não são importantes para eles porque são mudos, ao passo que a natureza está cheia de vozes. E eles se especializaram de tal forma nesta escuta que sabem, ao ver as nuvens, ao escutar os ventos, ao observar as lhamas ou os movimentos das formigas o que vai ocorrer na natureza.
Isso me faz lembrar uma antiga tradição teológica elaborada por Santo Agostinho e sistematizada por São Boaventura na Idade Media: a revelação divina primeira é a voz da natureza, o verdadeiro livro falante de Deus.
Pelo fato de termos perdido a capacidade de ouvir, Deus, por piedade, nos deu um segundo livro que é a Bíblia para que, escutando seus conteúdos, pudéssemos ouvir novamente o que a natureza nos diz.
Quando Francisco Pizarro em 1532 em Cajamarca, mediante uma cilada traiçoeira, aprisionou o chefe inca Atahualpa, ordenou ao frade dominicano Vicente Valverde que com seu intérprete Felipillo lhe lesse o requerimento,um texto em latim pelo qual deviam se deixar batizar e se submeter aos soberanos espanhóis, pois o Papa assim o dispusera. Caso contrário poderiam ser escravizados por desobediência.
O inca lhe perguntou donde vinha esta autoridade. Valverde entregou-lhe o livro da Bíblia. Atahaualpa pegou-o e colocou ao ouvido. Como não tivesse escutado nada jogou a Bíblia ao chão.
Foi o sinal para que Pizarro massacrasse toda a guarda real e aprisionasse o soberano inca. Como se vê, a escuta era tudo para Atahualpa. O livro da Bíblia não falava nada.
Para a cultura andina tudo se estrutura dentro de uma teia de relações vivas, carregadas de sentido e de mensagens. Percebem o fio que tudo penetra, unifica e dá significação. Nós ocidentais vemos as árvores mas não percebemos a floresta. As coisas estão isoladas umas das outras. São mudas. A fala é só nossa.
Captamos as coisas fora do conjunto das relações. Por isso nossa linguagem é formal e fria. Nela temos elaborado nossas filosofias, teologias, doutrinas, ciências e dogmas. Mas esse é o nosso jeito de sentir o mundo. E não é de todos os povos.
Os andinos nos ajudam a relativizar nosso pretenso “universalismo”. Podemos expressar as mensagens por outras formas relacionais e includentes e não por aquelas objetivísticas e mudas a que estamos acostumados. Eles nos desafiam a escutar as mensagens que nos vem de todos os lados.
Nos dias atuais devemos escutar o que as nuvens negras, as florestas das encostas, os rios que rompem barreiras, as encostas abruptas, as rochas soltas nos advertem. As ciências na natureza nos ajudam nesta escuta.
Mas não é o nosso hábito cultural captar as advertências daquilo que vemos. E então nossa surdez nos faz vitimas de desastres lastimáveis. Só dominamos a natureza, obedecendo-a, quer dizer, escutando o que ela nos quer ensinar. A surdez nos dará amargas lições.

Veja o livro " O Casamento do Céu com a Terra: mitos ecológicos indígenas." Moderna, São Paulo 2004. Leonardo Boff.


FELIZ 2012! Por Simone Bichara

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Um Feliz 2012 para todos nós! Que possamos estar conectados com as forças de amor, paz, equilíbrio, sabedoria, alegria e luz que a natureza e todo o universo nos oferece. Que possamos viver em 2012 um tempo de mais beleza, delicadeza, generosidade, compaixão, harmonia e prosperidade. Que nossos corações possam incluir todos e tudo dentro desse espírito da unidade, da irmandade. Possamos amar mais, rir mais e desenvolvermos em nós, energias mais positivas, belas, nobres e humanas, para que uma onda de paz, saúde, felicidade, abundância e amor cresça em nosso mundo, para nós, por nós e por toda a humanidade.

Continuo com o trabalho com as mandalas da floresta, através dele, busco fazer minha parte no sentindo de tocar as pessoas para a importância e a grandiosidade da floresta e de toda natureza. A natureza faz parte de nós como nós fazemos parte dela. O amor que sentimos por nós se estenderá à natureza, pois sem ela somos nada, nenhum dinheiro poderá comprar água potável se ela chegar a se esgotar. Destruir as florestas é o mesmo que destruir a vida no planeta terra.


No Blog você pode acompanhar o nosso proejto " A Mandala e a Palavra", onde, tão belamente e sabiamente, a escritora cuiabana Daniella Paula Oliveira vem abrilhantando o meu trabalho com as mandalas, com seus maravilhosos textos. Nossa proposta é fazermos um livro, vamos colocar toda nossa intenção nesse propósito, para que ele se realize ainda esse ano.


Sou acreana e moro no Acre, mas sempre viajo para realizar as exposições ou para participar de alguns grupos holísticos. Percebo que aqui na Floresta o nosso tempo é outro, nosso jeito de viver, nossa cultura, nossa comunhão com a Mãe Terra e toda natureza é muito peculiar.

As Mandalas da Floresta nasceram daqui, nasceram dessa energia, dessa sintonia com o sagrado dentro e fora de nós, dessa força de cura, amor e luz que é a floresta. Nasceram da minha convivência com os índios, os seringueiros e a Amazônia. Mostrá-las ao mundo é a minha maneira de contribuir para esse religar com as forças primordiais da natureza, do planeta...Que cada ser possa fazer esse caminho de volta para o coração, esse caminho de conexão com as forças divinas, com o sagrado que há em tudo e em todos - em toda Criação.


Nesse Novo Ano vivamos um Novo Tempo, um Tempo de mais apreciação do que é belo em nós e fora de nós. Que saibamos valorizar nossas conquistas e avanços... Que possamos transformar o que não nos agrada e nos deixa infelizes e pobres, partindo de dentro de nós todas as mudanças. Com ações justas e nobres, possamos ir organizando nossas vidas, nossas sociedades, nossos sistemas político, econômico e social.

Toda mudança depende de nós! Tudo que experimetamos é nossa criação em algum nível. Limpemos nossos pensamentos e façamos a nossa parte para que a vida no Planeta Terra seja mais alegre, harmônica e saudável, assim, poderemos gozar de uma maior abundância e prosperidade, onde a distribuição de rendas e riquezas sejam mais justas. É possível construímos uma Nova Era, um Tempo de mais beleza e delicadeza; de mais amor e saúde, de mais paz e riquezas.


Felicidades para todos nós!


"A paz começa dentro de mim".


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Abraços,


Simone Bichara


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Mandala "HUNI KUI" (Povo Verdadeiro)

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Huni Kui (Povo Verdadeiro)

Huni Kui, Kaxi!
A vós, minha singela exaltação verdadeira.
Para o povo de tamanha realeza
Todas as minhas palavras seriam de pouca beleza
Pois vossos cantos eu escuto daqui e os vossos deuses me abençoam, Huni Kui!

Para vós oferto os meus modestos versos
Lembrando que o nosso descaso e o nosso retrocesso
Fizeram-nos esquecer das vossas nobrezas
Esquivaram-vos da merecida gratidão
E isso pesa em meu coração.
Portanto, é só na frágil poesia que eu encontro alento e harmonia para agradecer.

Vós que pairam no nascer.
Vós que emergem do rito.
Vós que cultuam o silêncio e o grito.
Vós que embalam o aparecer de todos os sois.
Vós que descansam todas as luas.
Soeis vós, Huni, o Povo Verdadeiro!

Rubro. Escarlate. Taxipa!
Vermelhos são vossos sonhos.
Vermelhos são vossos kenês.
No entanto, vossos sangues são mais que rubros, são verdes
-de esperança, de abundância, de força como vossas matas e redes.

Hoje vos louvo, Huni!
Pois hoje louvo tudo o que for Kui!
E vos faço um pedido com humilde devoção
Jamais desacredite dessa nossa Grande Aldeia;
Vós soeis as relvas que fazem germinar as boas sementes do nosso canteiro.
Os oleiros da mata, que transformam em vida o que ainda nos escalda.

Enaki! É meu também o vosso canto!
Essa parcela de encanto, onde habita dentro e fora o Huni Kui!

Mandala de Simone Bichara – Texto de Daniela Paula Oliveira

Projeto "A Mandala e a Palavra".

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